‘A questão da corporeidade toca-nos – utilizo a palavra tocar voluntariamente. Há três corpos que estão eminentemente ligados: o corpo territorial, o do planeta e da ecologia, o corpo social e enfim o corpo animal ou corpo humano. Daí nasce a necessidade de se ressuscitar em relação ao outro – a questão do próximo e da alteridade – mas também em relação à Terra, isto é, ao próprio, sem situação. O corpo próprio está situado em relação ao outro, à mulher, ao amigo ao inimigo…mas está situado em relação ao mundo próprio. Ele está «aqui e agora», hic et nunc, ele está em su situ. Ser é estar presente aqui e agora. (…) A cidade foi sempre um dispositivo teatral como a ágora, o átrio, o fórum, a praça de armas, etc. Simplesmente, era um espaço onde se podia estar em comum, isto é, um espaço público. Ora, hoje, o dispositivo televisão substitui o espaço público pela imagem pública deslocada da cidade. A imagem pública não está na cidade, ou então na «tele-cittá» em conjunto. Creio que o que está em causa por detrás da questão do espaço virtual, é a perda da cidade. Eu sou urbanista e a cidade é para mim o lugar do corpo social, o lugar do povoamento. Hoje, 80% da população está agrupada em 20% do território, e amanhã serão 90%. E é à escala do mundo que a cidade atrai a população. Portanto, constitui-se uma espécie de cidade das cidades: a cidade das telecomunicações, a cidade da internet. (…) E a propaganda feita à volta da Internet e das auto-estradas electrónicas pretende urbanizar o tempo real no momento em que se desurbaniza o espaço real.’
Paul Virilio, ‘Cibermundo: A Política do Pior’, pg. 48-50, editora Teorema, 2000
Sem comentários:
Enviar um comentário