20061123

a-'Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza'




Estreia Nacional 23 e 24 Nov. às 21H30
Culturgest, Lisboa

Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza
de Vera Mantero & Guests

Tive a oportunidade de assistir ao ensaio geral desta peça/performance/concerto e o que para já o que posso dizer-vos é que é simplesmente genial! Simplicidade, descontração e uma óptima interpretação suportada por um texto extremamente versátil e inteligente. Absolutamente recomendável - a não perder!

‘Passear.
Quando passeamos, numa floresta por exemplo, tudo muda constantemente. Ao mesmo tempo tudo fica igual, as árvores ficam, o que muda verdadeiramente será talvez a nossa percepção (ritmo, som, toque, olhar).
Passeamo-nos num espaço mental que decorre no tempo do acto de "performar". As ideias oferecidas são desconexas, como se vagueássemos dentro de um cérebro. Os mecanismos vão desde a associação de ideias, de sons, quedas num espaço de memórias, ressaltos num espaço de constatações. Travessia do espaço dos desejos pessoais, dos desejos partilhados. Viajar nesse espaço como se se tratasse de uma viagem galáctica… perdidos no vazio mas retirando um prazer real deste espaço no qual flutuamos e onde não esperamos nada, onde não há expectativas.
Trata-se de um convite a fazer connosco uma viagem. As inquietudes que temos dirigem-se essencialmente ao espectador. Estás pronto a seguir-nos? A seguir-nos no nosso presente, sem esperar uma "espectacularidade". Somos sem dúvida pessoas desajeitadas e que tropeçam. O único elemento do espectáculo é o uníssono… mas o nosso coro não está afinado. A viagem não avança verdadeiramente, tal como na floresta, tudo muda todo o tempo e na verdade nada muda visivelmente.
Sem vontade de ensinar seja o que for. Não se trata de um discurso. As coisas enunciadas não são em si próprias importantes. O que sustém o tempo são os silêncios, os entremeios, os buracos. Nós não estamos num mundo absurdo.
Estamos no não-espaço, no não-tempo do presente. Como num cérebro, no pensamento qualquer coisa surge a qualquer momento. It's beyond our control. Os corpos, os nossos corpos, reflectem os seus corpos (do espectador). Mas é por vezes um espelho que deforma, onde o que é dito pode ser o contrário do que queremos dizer. Os papéis estão invertidos. As frases têm duplo sentido. Nós não queremos uma depressão. O nosso despojamento é feliz. O impacto do nosso ambiente cultural naturalmente judaico-cristão impede-nos de nos "despirmos" completamente. Estamos num jogo musical. A nossa música é feita a partir das nossas musicalidades/músicas. O "divino" apaziguador surge nos nossos cânticos de meditação. O animal ouve mal, compreende mal. Ele é feito de felizes confusões.
No início era o verbo, a destruição de Deus começa agora pela destruição do verbo.

Impressões ao longo do processo.’
Loup Abramovici

: acções que servem para entender, para reparar, para nomear : a língua virada do avesso : vibração (maravilhar-se) : aparente esquecimento de que Deus, na verdade, nunca existiu : potência impotente : habitar um corpo aberto : (faz-nos sonhar) : intimidade --> liberdade --> energia : não à disjunção : Nietzsche amava em Goethe a totalidade : dificuldades de toda a espécie devem ser bem acolhidas : razão+sensualidade+sentimento+vontade : minúcia e milagre : desregulamento antropológico : encarnar : os laços : potente impotência :
Vera Mantero


Direcção Artística Vera Mantero // Interpretação e Co-Criação Brynjar Bandlien, Loup Abramovici, Marcela Levi, Pascal Quéneau, Antonija Livingstone, Vera Mantero // Concepção do Espaço e Figurinos Nadia Lauro Música Boris Hauf // Desenho de Luz Jean-Michel Le Lez // Colaboração Dramatúrgica Bojana Bauer //Produção Executiva O Rumo do Fumo // Co-Produtores Centre Chóreographique National de Tours, França/ Centre Pompidou - Les Spectacles Vivants/Festival/ D'Automne, Paris/França/ Culturgest, Lisboa, Portugal/ Le Quartz/ Scéne Nationale de Brest, Brest, França/ O Espaço do Tempo, Montemor-o-Novo, Portugal //Apoio Fundação Calouste Gulbenkian

3 comentários:

Anónimo disse...

óptimo concerto com disparos sonoros que ecoam na caixa humana! frases potentes que ecoam no teu pensamento!
expressões de rosto que são gravadas no teu pensamento como imagens pela noite a dentro...

merdinhas disse...

Rui Chafes e Vera Mantero - Comer o Coração...foi a última vez que a vi.


Gostava de ir...

merdinhas disse...

RTP 2 hoje...11h15 ou 11h 30...


porque Cesariny morreu hoje, 26 de Novembro