20090705

Kabuki.

'Sábado à noite, estacionamos o carro num pequeno espaço perto da Almirante Reis.
Seguimos num passo um pouco acelerado, e chegamos a aquilo que nos tinham transmitido como ser a morada certa – a partir de determinado ponto, uma rua à direita e logo outra à esquerda.
Vemos outras pessoas a chegar também apressadas.

A porta pintada de preto, parece ser à primeira vista a de uma garagem, não apresenta qualquer indicação sobre o espaço, apenas uma grade de posters pendurada também na cor preta, mas vazia.

Entramos para uma sala com alguns cartazes e pinturas postados na parede de forma desordenada, e vejo algumas pessoas em posição de espera e umas escadas ao fundo. Descemos as escadas, e situa-mo-nos num bar, com algumas mesas e cadeiras espalhadas e uma cama ao centro do espaço. Perguntamos a alguém que circulava onde seriam as sessões, mas também obtivemos uma indicação incerta. À partida deveríamos seguir até a uma sala ao fundo de um corredor.

Mais uma vez, a cor que invadia o espaço era o preto. Nada ao certo parece muito cuidado, aliás apenas o banho na cor preta parece unificar os elementos desde o momento da chegada.
A iluminação é muito baixa, as poucas pessoas parecem um pouco agitadas, andam de um lado para o outro expectantes. Uns fumam outros encostam-se às paredes e nós decidimos aguardar.

Seguimos até ao fundo do corredor e identificamos aquilo que nos parece ser um pequeno auditório pela disposição das cadeiras. Aguardamos à porta um pouco. Chega-nos uma pessoa amiga, também um pouco desorientada, e conta-nos que este espaço costumava ser noutra rua aqui perto.
Aguardamos um pouco mais, até que nos pedem para deslocar até ao bar. Percebemos alguns sorrisos e pressentimos que algo está prestes a começar.'

É assim no meio de algum ambiente de incerteza e curiosidade que assisti a um dos dias do Festival PROFORMA 09 do espaço Kabuki. Um pequeno espaço laboratorial para actores, performers e bailarinos articularem algumas das suas experiências a um pequeno, mas curioso público, que se atenta aos pormenores e a todos detalhes deliciadamente.

Fica aqui o meu profundo apreço a duas peças que vi e me satisfizeram pela pureza e entusiasmo de dedicação que os seus responsáveis lhes atribuíram – o energético 'T0' de Cecília Hudec, Joana Borges e Thora Jorge e o inesquecível e intenso 'Rape Me Rape Men' de Liliana Costa.

Ainda existe outro dia no seu calendário, que recomendo vivamente a quem se possa interessar por estes pequenos mas valorosos espectáculos laboratoriais.


Imagem: Vox de Clara Gomes (aqui)

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