a-significado

SS NV10 / ISO400

'Talvez seja então, a imagem do computador a que pode mais adequadamente representar a sociedade sistémica, com o seu hardware infra-estrutural e com o perpétuo reordenamento funcional das torres de escritórios, das fábricas e dos armazéns, das auto-estradas e dos aeroportos, dos aglomerados ou conglomerados comerciais e domiciliários, e o seu software de posses, de direitos e de actos de consumo privados, as suas organizações e os seus aparelhos, as suas convenções em que se estabelecem e se estabilizam temporariamente relações de força, os seus sistemas mediatizados, psicologizados, profissionalizados, «peritizados», de gestão e de decisão, de comunicação e de informação, de previsão e de influência. Não foi, portanto, por razões técnicas inerentes ao desenvolvimento das profissões do construtor, do arquitecto e do engenheiro, que entre eles se verificou um divórcio, semelhante ao que ocorreu entre a arquitectura e a cidade, e que se desarticulou a relação entre os espaços sociais e a sociedade, mas tal ficou a dever-se a razões muito mais fundamentais, que nos sentiríamos a qualificar de ontológicas, de epistemológicas e existênciais.'

'Arquitectura e Sociedade' de Michel Freitag
pg. 66 e 67, Editora Dom Quixote

O livro data já de 1992, portanto não é de admirar a sua pertinência ou consistência.
Freitag estabelece uma relação inteligente sobre a forma como as cidades se têm vindo a organizar-se cultural-sociológico-e-economicamente falando, sobretudo desde a época medieval, e demonstra o quanto isso foi importante na afectação do espaço e da arquitectura ao longo dos tempos até à actualidade.

Para Freitag, a relação e configuração do indivíduo com o espaço público tem sido cada vez mais estigmatizada devido às premissas concertadas por sistemas macroeconómicos globais incontornáveis, cada vez mais evidentes nas actuais sociedades apoiadas em estruturas de fundo capitalista.

'WHAT IS GOOD FOR GENERAL MOTORS IS GOOD FOR AMERICA.' (1955)

Este slogan é um dos exemplos usados por Freitag para demonstrar sintomaticamente o que o 'mercado' permite, deseja, ou melhor alimenta ainda nos dias de hoje.