20081106

Sobre o Novo Museu dos Coches [NMC],
do arquitecto Paulo Mendes da Rocha [PMR]:

O projecto do NMC insere-se na base de uma proposta estatal de 2006 - 'Belém Redescoberta' - que integra também o ‘rejuvenescimento’ do Jardim Tropical e do Planetário, a iluminação da orla fluvial e toda uma nova sinalética para esta zona.

Sumariamente o projecto de PMR propõe três volumes distintos. Dois destes volumes estão inseridos na área das Oficinas Gerais de Material do Exército, que são o museu propriamente dito e uma estrutura pavilhonar com auditório e serviços técnico-administrativos, e um outro, um silo automóvel do outro lado da ferrovia, junto à estação de fluvial de Belém.

Os dois volumes protagonistas, ambos com 12 metros de corpo e suspensos a 4,5 metros do solo, assumem uma postura de fecho de quarteirão, embora todo o espaço público se desenvolva em contínuo no piso térreo, sob o edifício, abrindo-se a uma praça que efectua uma transição deste espaço para um tecido urbano de pequena escala e posteriormente à Rua da Junqueira, através de alguns pontos de acesso.

O terceiro elemento programático, essencial na figura do projecto, é o passadiço rampeado, que faz literalmente a ponte entre as três peças de projecto.

A proposta estratégica estatal comunica-nos, desde logo, que existe uma visão fragmentada do tecido urbano descontextualizada de um plano que se pretende evolutivo e de interesse turístico e cultural. Felizmente PMR actuou e bem, reorientando-a para um desbloqueio do tecido urbano, através de novas transversalidades e acessibilidades ‘fora da caixa’ inicialmente prevista, para além do passadiço inicialmente previsto no programa preliminar de projecto.

A pesquisa e a liberalização destes acessos e percursos verdadeiramente fluidos de pessoas no território, parecem-me ser um dos elementos mais fortes do projecto de PMR, abrindo a uma lógica de novas conexões na malha urbana, contrariando o que o programa ‘Belém Redescoberta’ apenas tinha vindo a demonstrar, ao ancorar-se em equipamentos já de si desgastados programaticamente e evitando um questionar mais aprofundado no devir deste troço de cidade, ou na expansão do programa de oferta para uma rede de equipamentos culturais e turísticos mais abrangente.

Acho de extrema importância a revitalização do Jardim Tropical, mas não no seu sentido enquanto elemento isolado e circunscrito, mas como elemento comunicante e disseminador de e para uma cidade viva e liberal nos seus limites e fronteiras.

Poderíamos nomear aqui equipamentos públicos como o Jardim Botânico e Palácio da Ajuda e o Parque Florestal de Monsanto, no plano de integração da encosta e o Museu de Arte Popular, Doca de S. Maria de Belém e Doca de Pedrouços, na linha de rio e de aterro como exemplos por explorar completamente à margem destas massas de visitantes e passíveis de serem adstritos a uma lógica de estruturas culturais e turísticas interligadas, para além das que até agora foram anunciadas.

De resto, apenas uma nota sobre uma adjudicação directa do estado a uma equipa técnica de projectistas, consternando-se mais uma vez o acesso desta sem qualquer concurso público. Anulou-se desse modo a possibilidade produtiva de discussão aberta, positiva, pública e sobretudo da ampliação dos seus resultados estratégicos globais através de um concurso público internacional.

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